Papas
& sarrabulho
No
ano da graça de 1982, congraçavam as contas nacionais: “a dívida externa
portuguesa era ligeiramente superior a 770 milhões de contos no final do
primeiro trimestre deste ano, (…), o que significa dever neste momento cada
português, uns 77 contos ao estrangeiro” [1]. “Prevê-se
que no conjunto do ano de 1982
a balança de transações correntes atinja um défice de 2,5
mil milhões de dólares (…). Três ‘modestos’ empréstimos foram entretanto
pedidos ou autorizados: 21 milhões de contos junto de um consórcio de 10 bancos
liderado pelo Banco Português do Atlântico; 1,3 milhões de contos para Sines,
mediante contrato assinado em Paris há poucos dias com o Banco Worms; e 7
milhões de contos pedidos ao Conselho da Europa” [2].
Pedir não é vergonha [3]: a pedido do ministro
da Administração Interna português, “Fernández Dopico, chefe da brigada
antiterrorista da polícia governativa espanhola, foi o ‘especialista’ que se
deslocou a Lisboa, no dia 13 de fevereiro último, na sequência de um telefonema
feito às três da manhã por Ângelo Correia, para o seu homólogo espanhol, Juan
José Rosón”. “Dopico, um dos mais populares polícias do país vizinho – conduziu
as investigações que levaram à descoberta do paradeiro do pai de Julio Iglesias
e dos seus sequestradores [4] – é o braço
direito do chefe do Comando Unificado de Luta Antiterrorista, Manuel Ballesteros,
o polícia mais temido de Espanha”. O insone Ângelo Correia [5], destemido visionário de insurreições invisíveis,
ajuntava os melhores espíritos da sua geração: segunda-feira 12 de abril
“deverá chegar a Lisboa outro polícia espanhol, este para dar um curso de
antiterrorismo a agentes da Polícia Judiciária. Este curso, que reunirá 40
agentes vai funcionar numa quinta perto de Loures e nele estarão incluídos
alguns elementos que tiveram ligações com a ex-PIDE/DGS. (…). Depois do curso a
brigada será instalada na rua José Malhoa, num edifício novo”.
No
outro canto do pasto, a raison d’être
dos cursos para polícias, polícias ladinos, protetores da calmaria social para
os seus negócios, também se apinhava para o assalto bancário ao país [6]. “Os antigos grupos económicos que dominavam a
banca antes do 25 de abril reorganizam-se no estrangeiro e criam as suas
próprias redes bancárias. O caso do grupo Espírito Santo parece ser o mais significativo.
Não é contudo o único! Os Mellos, por exemplo, são acusados em certos meios
bancários de controlarem a gestão do relacionamento externo do Banco Totta
& Açores, através de familiares e homens da sua confiança, colocados em
Londres e Nova Iorque, e até na própria direção de estrangeiro da sede. No caso
do grupo Espírito Santo, a sua atividade desenvolve-se atualmente na Europa e
na América através de uma vasta rede bancária de que fazem parte nomeadamente a
Société Bancaire de Paris, a Compagnie Financière Espírito Santo, em Lausana
(Suiça), o Biscayne Bank em Miami e o Banco Inter-Atlântico de Investimento, no
Rio de Janeiro”. O vice-governador do Banco de Portugal, dr. Loureiro Borges, encarregado
da coordenação bancária, honestiza-os perante as vigilantes Comissões de
Trabalhadores: “andam a sonhar com ladrões”, “se eles querem mandar para cá
dinheiro porque é que havemos de os impedir? Só porque o grupo Espírito Santo
lá está metido? Isso não são razões objetivas, nem jurídicas! Nós não temos
nada que ver com quem são os donos desse banco! Não nos interessa se eles são
os Espírito Santos ou os vizinhos do lado. Querem para cá mandar dinheiro e
isso basta. O caso não tem a dimensão de uma pulga. O Espírito Santo já foi um
papão mas já não é” [7].
Para
o povo papar é… “a bica passa a custar 12$50, quando servida à mesa, e 10$00 se
servida ao balcão, por determinação de uma portaria do ministério da
Agricultura, Comércio e Pescas, rubricada por Basílio Horta e publicada no Diário da República ,
com data de 6 [de abril]. Esta portaria entra imediatamente em vigor e
determina, também, aumentos generalizados nos serviços de cafetaria e
restaurantes que vão desde o galão (15$00) ao copo de leite (10$00 e 11$50,
consoante a categoria dos estabelecimentos), à torrada (20$00 e 21$50), ao
prego (40$00 e 42$50) e ao cachorro (20$50 e 22$50)”. Sexta-feira dia 23, o
ministro reforça os aumentos. “O preço do pão vai aumentar entre 26,9 e 29,4%
(…). As carcaças sofrem uma redução de peso, passando de 50 para 45 gramas , enquanto os
pães de 250 gramas
passam a ser produzidos com 240. (…). Basílio Horta anunciou igualmente a
criação de um novo regime de preços para alguns bens essenciais que, na sua
opinião, se traduzirá num maior controlo dos preços. (…) ficando assim sujeitos
a esse regime o pão, o arroz, o açúcar, o leite, os medicamentos, as ervilhas
congeladas, a cafetaria, os adubos, as carnes de bovino e a maçã”. Segunda-feira
dia 26, “o quilo de carne de lombo sem osso, verde ou congelado, passa a custar
cerca de seis notas de cem (590 escudos), e o da vazia (também sem osso)
530$00, seja de bovino adulto ou de novilho, fresco ou congelado. (…). A
fralda, o peito, o rabo, a aba delgada, a aba das costelas, o prego do peito e
o rabo, tudo carne de 3ª categoria, passa a custar 250 escudos o quilo, sem
osso e 180 com osso. O quilo da língua sobe para 290 escudos, o de rim para
280$00”. Quarta-feira, 4 de agosto, “o preço da carne de bovino foi
descongelado, por portaria publicada hoje no Diário da República
pelo que as tabelas em vigor desde abril vão saltar, já amanhã, correspondendo
os aumentos a percentagens variando entre os 10 e os 12%. Isto menos de 24 horas depois de o ministro
Basílio Horta garantir que os preços dos bens essenciais não iam subir” [8].
Outros
bens essenciais: “cocaína em Portugal de cinco a nove contos por grama. Menos
conhecida e menos divulgada do que a heroína, a cocaína tem o seu mercado fixo
em Portugal (a Judiciária tinha referenciados 1 413 consumidores). Mas, devido
à política seguida pelas redes que a colocam nos países seus principais
consumidores, nós somos sobretudo um ‘lugar de passagem’ para este pó branco
que conquistou os jovens quadros e executivos americanos e se instalou na RFA,
França, Suiça, Itália. (…). Nos EUA, o ano passado, uma onça de cocaína pura (28,35 g ) ou vendida como
tal, custaria aos jovens executivos ou quadros de empresas que são os seus
consumidores preferenciais 2 200 dólares (cerca de 154 000 escudos), quer
dizer, cinco vezes mais que uma onça de oiro”. O ciclo vicioso português era
outro: “os jovens heroinizados portugueses de hoje começaram por roubar à mãe
os comprimidos que ela tomava para dormir – e depois fizeram um vertiginoso
caminho até ao ‘cavalo’, queimando etapas e, na mais grave das hipóteses,
assaltando a farmácia do seu bairro em momentos de crise dependente. Os jovens
heroinizados portugueses começaram por drunfos (medicamentos antidepressivos,
neurolépticos, soníferos) ou anfetaminas (para estudarem para os seus exames) e
depois, no dia em que falhou o assalto à farmácia, houve um amigo que lhes
disse: ‘não, hoje não tenho drunfos para ti, mas tenho um chuto’. E
experimentaram”. “Hoje em dia, em Portugal, a ‘heroa limpa’, misturada mas não
‘marada’, custa entre 12 000 e 16 000 escudos o grama” [9].
Em
1982, no centro do discurso económico do FMI estavam arcaísmos como
“ajustamento”, “desemprego”, “segundo semestre”, que em 2013 nem linguistas nem
economistas sabem o que significa. “O Fundo Monetário Internacional considera
no seu relatório anual que a situação económica mundial continua a ser
‘preocupante’, mas que a luta ‘difícil’ contra a inflação que já proporcionou
‘certos progressos’, deve ser mantida firmemente. A inflação é ‘ainda demasiado
elevada na maioria dos países’, constata o FMI advertindo os 146 países membros
desta instituição internacional contra a tentação do recurso ‘fora de tempo a
políticas expansionistas’. Defendendo a ‘paciência’ e a ‘prudência’, o Fundo Monetário
reafirma a necessidade de se ‘prosseguir políticas globais de ajustamento’, nos
países industrializados e em desenvolvimento, e isto ‘apesar das pressões
causadas pelas tensões sociais e políticas decorrentes de um nível elevado de
desemprego’. O Fundo mostra-se muito prudente no tocante às perspetivas de
recuperação. ‘Poderá começar um modesto reequilíbrio no segundo semestre de 1982’ ” [10].
Na
cidade do Porto “era já sábado, 1.º de maio, 0:10, quando se ouviu o primeiro
tiro. Depois outro e muitos mais à mistura com cassetetadas sobre quem quer que
fosse e onde quer que estivesse nas imediações da sala de visitas desta velha
urbe. Os corpos foram tombando, as fugas, desabridas sucederam-se, as pedradas
também, e as ambulâncias entraram num louco rodopio. A baixa do Porto, da
avenida dos Aliados até à praça da Liberdade, era uma zona sitiada. Foi um
pandemónio até às duas da madrugada. A ordem era limpar tudo e todos. Fossem
crianças, velhos ou mulheres. Os jornalistas, mais uma vez, se não fugissem
também levavam. ‘Esse cartão não vale nada’ – disseram alguns polícias
ameaçadoramente”. Morreram duas pessoas baleadas, Pedro Sarmento Vieira, 24
anos, e Mário Emílio Gonçalves, 17 anos. “Resultado do 1.º de maio mais
sangrento de que há memória: dois mortos, alguns feridos graves e quase uma
centena de feridos ligeiros, com marcas na cabeça, nas pernas, nas costas. Com
pedras, foram atingidos alguns polícias: cinco registados no Santo António, um
no S. João”. Ao fim da tarde do dia 2, o presidente da República Ramalho Eanes garantia
a certeza habitual: “não vai ficar com certeza na gaveta”, o inquérito da
Procuradoria-Geral da República; e “visitou os dois feridos que se encontram
internados no Hospital de Santo António do Porto: Maria Emília e João Carlos. O
presidente inteirou-se do estado deles, quis saber como foram as coisas e
prometeu enviar livros para o João Carlos. (…). Maria Emília Silva Soares, 26
anos, por sua vez, contou ao PR que estava em camisa de noite quando foi
atingida [no abdómen, por de bala 9
mm da Polícia de Intervenção do ministro Ângelo Correia]
junto à sua residência, na travessa de S. Sebastião, 61-2.º, um pouco acima da
rua do Corpo da Guarda. Estava preocupada com o atraso do marido, que tinha ido
ao futebol, desceu à porta, juntou-se aos vizinhos que ali estavam mirando os
acontecimentos que se desenrolavam dezenas de metros abaixo. ‘ A gente nem à
beira de casa está bem’ – desabafa ela”. O Comando Distrital do Porto da PSP justificou
num comunicado a origem do sarrabulho: “um grupo de indivíduos, empunhando
bandeiras da CGTP-IN, tentou invadir o recinto da festa com o intuito evidente
de assaltar o palco”.
Na
terça-feira 29 de junho, um elemento da Polícia de Intervenção é entrevistado
pelo Diário de Lisboa: “é difícil dizer, é claro que não estou de acordo que
haja mortes. Mas para quem se encontra de fora, às vezes, é tudo muito mais
simples. A nossa intervenção no Porto foi muito complicada. Quando chegámos ao
local, havia uma grande confusão. Gente caída no chão, agressões, correrias,
agentes do Porto um bocado desnorteados, civis de pistola na mão”; não seriam
bófias à paisana? “Talvez… mas isso não lhe sei dizer”; qual a missão? “Bom.
Geralmente aquilo que fazemos é dispersar os focos de perturbação. Por assim
dizer, limpamos o terreno. Sei que nem toda a gente compreende que é preciso
fazer isso. Mas é necessário”; há exageros nessas limpezas? “Exageros?
Imagine-se com uma farda vestida, cumprindo uma ordem superior. Se alguém se
recusa a acatar as diretivas de ordem pública, que saída lhe resta senão a do
emprego da força?”; “diálogo? Depois de recebermos ordens para varrer o
terreno? Deixe-me rir. Vê-se mesmo que nunca andou metido nestas alhadas”;
“ora, ora… a Constituição. O que eu sei é que temos instruções para não entrar
em paleios com os civis. Recebemos ordens e cumprimo-las. Não pode ser de outra
forma”; “mas veja: quem é que matou as duas pessoas no Porto? Vieram logo dizer
que foi a Polícia de Intervenção. Eu estou convencido que não fomos nós. Houve
dois dos nossos que fizeram fogo, mas confessaram-no numa reunião com o nosso
comandante. Disseram: ‘sim senhor. Fizemos fogo, mas só para proteger as
carrinhas, fogo para o ar”.
Na
segunda-feira 7 de junho, o adido comercial da embaixada da Turquia, Erkut
Akbay, 39 anos, é morto pelas 13:00 horas em Linda-a-Velha, com cinco tiros 9 mm na cabeça e pescoço, no
interior do Peugeot 504, azul metálico, matrícula CD-15-55. A sua esposa Nadide ferida
com quatro balas ficou em coma no hospital S. José. “Na operação, reivindicada
telefonicamente para as agências da France Press em Paris e em Lisboa, pelo Comando
dos Justiceiros do Genocídio Arménio, teriam participado dois homens, sendo um
o autor dos disparos (ainda jovem, trajando calça e casaco de modelo safari, de
cor azul e com um panamá branco na cabeça) e outro, colocado à distância,
igualmente jovem, moreno, de bigode e de fato de treino castanho. (…). O
agressor, que com as mãos envolvidas num saco de plástico, empunhava duas
pistolas Browning, uma das quais deixou abandonada no local, foi visto a fugir
‘em jeito de maratonista’ na direção de Linda-a-Velha”. Ângelo Correia, o duro ministro
da Administração Interna: “lamenta profundamente o ocorrido” e serenou a
pátria: “isto não significa que o terrorismo internacional tenha chegado a
Portugal, pois foi o trabalho de um grupo particular contra um alvo específico”.
Este atentado justificava os seus planos para a criação de uma polícia
antiterrorista.
Domingo
15 de agosto, pelas 21:30 na avenida da Liberdade explodem duas bombas. Uma, no
n.º 192-A, nos escritórios da Lufthansa, a outra no n.º 244, nos da Air France.
“O engenho que rebentou na Air France afetou ainda o segundo andar do edifício
onde funciona a secção de Emigração da Embaixada da Austrália e a entrada da
boîte Cova
da Onça. (…). De acordo com a brigada de Minas e Armadilhas, as cargas
utilizadas, constituídas, cada uma delas, por 1,5 kg de TNT ou explosivo
plástico, foram colocadas nas plataformas entre os pilares e as montras dos
escritórios”. Tomou conta da ocorrência uma das pupilas dos duros olhos do
ministro Ângelo, a Direção Central Contra o Banditismo.
No
ano de 82, entre patuscadas, guardas da PSP e guardas prisionais organizam-se
em sindicatos. “Tendo em vista a criação de uma organização
sindical-profissional que englobe os 18 000 efetivos da PSP, criou-se no
passado sábado [26 de junho] uma comissão de 12 elementos, no decorrer de um
almoço que reuniu mais de 200 agentes da PSP, que iniciará uma ação de
esclarecimento junto da população, através de panfletos, e a nível interno dos
próprios agentes. Entretanto, foi ontem [27 de junho] formado o Sindicato
Nacional dos Guardas Prisionais numa assembleia, em Coimbra, que reuniu mais de
trezentos participantes”.
Sexta-feira
7 de maio a “indústria de santinhos entrou no sprint papal. Artesãos e pequenos industriais da arte sacra de
características mais populares estão a dar tudo por tudo para não perderem o
comboio da vinda de João Paulo II a Portugal”. “A diferença entre as criações
portuguesas e o que de similar se faz no estrangeiro é flagrante. Entre nós, a
fabricação de toda a gama de produtos é deixada maioritariamente à iniciativa
dos comerciantes, considerados individualmente. Com a agravante de tudo ou
quase tudo ser feito em cima da hora e muito em cima do joelho. O aparecimento
tardio dos pratos com decalcomanias, dos bustos em cimento ou plástico, das t-shirts ou dos galhardetes não se deve
exclusivamente a esse facto. Cada comerciante ou industrial tratou de si e
tenta chegar ao mercado na melhor altura: tempo para vender mas sem dar tempo a
que a concorrência lhe copie as ideias. (…). O caso dos porta-chaves: aí se
junta a componente importada do Japão, que é a parte de suporte. Junta-se-lhe o
esmalte desejado, que no caso será a imagem de João Paulo II e/ou as armas do
Vaticano feito numa outra unidade. A fábrica, no caso, incorpora a mão-de-obra.
E assim o produto chega ao mercado. (…). A par da produção privada de material,
a Comissão Nacional encarregada de organizar a visita do Papa concretizou
várias iniciativas, desde uma medalha nacional, com tiragem limitada e
distribuição pública reduzida [por 800$00], aos posters e autocolantes”.
Mais
empreendedores são os carteiristas. Quarta-feira dia 5 “oito dias antes da
chegada de João Paulo II a Fátima, os carteiristas já rondam a vila – referiram
responsáveis pela organização da visita ao Santuário das Aparições. ‘Os
carteiristas já começaram a sua peregrinação a Fátima. Até em Aljustrel, onde
estão as casas dos videntes, foram recentemente detetados’, disse ontem em
conferência de imprensa, o secretário do Santuário, Francisco Oliveira. ‘Não
venham para cá com muito dinheiro. Tragam algum, mas não tragam muito’”. Os
carteiristas sempre foram filhos de Deus. “Em qualquer grande peregrinação –
escrevia, em 1977, o reitor do Santuário ao então ministro da Administração
Interna, Costa Brás – são às dezenas as carteiras que entregam no posto de
acolhimento do Santuário – vazias, claro está”
Quarta-feira
12 de maio “João Paulo II chegou ao aeroporto da Portela às 13:30 dirigindo-se,
após os cumprimentos protocolares, [“sinto neste momento a necessidade de
exprimir o meu mais alto apreço e render preito às tradições cristãs desta
terra abençoada” – diria ele ao presidente da República], em cortejo automóvel
até à Sé Patriarcal e igreja de Santo António. A seguir, cerca das 15:30, o
Papa ruma para o palácio de Belém, onde será recebido pelo presidente Ramalho
Eanes. Duas horas depois, o Santo Padre recebe na embaixada da Santa Sé em
Lisboa o primeiro-ministro e outras individualidades oficiais [“ao encontrar-me
com tão seleta representação de Portugal quereria assegurar-vos a maior estima
pela alta missão de que estão revestidos ao serviço do bem comum de toda a
nação” – disse o Santo Padre perante aqueles que subirão a dívida portuguesa
para cima dos mil milhões de contos, no final desse ano]. A partida para Fátima
está prevista para as 19 horas, mas o helicóptero inicialmente previsto poderá
ser substituído por outro meio de transporte devido ao mau tempo que continua a
fazer-se sentir”. São Pedro condescendeu. “Fátima, 20 horas e cinco minutos: os
helicópteros aterram no campo de futebol, caiadinho de amarelo à espera de
receber de mão beijada o nome de Campo João Paulo II. A multidão é imensa (…).
Letreiros e estandartes: milhares. ‘Amo-te’, ‘Viva o Papa’, ‘Universidade
Católica faz peregrinação a pé’. Também dizem da Polónia, pedem medianeiro para
as Malvinas, falam de Pão e Paz no Mundo. A ‘Totus tuus’ corre de fio a pavio o
Santuário. E o clamor torna-se impressionante, ensurdecedor, quando o Papa
chega junto da Cruz Alta. Vem num jipe branco: há milhares de lenços brancos,
flores, frases de entusiasmo. João Paulo percorre o pequeno caminho até ao Seminário,
recolhe-se um pouco e só depois enceta a viagem até à Capelinha das Aparições,
que perdeu toda a original traça rústica e parece uma montra da galeria
Gulbenkian”.
“Só
um homem de negro procura cada vez mais aproximar-se de João Paulo – escreve Neves
de Sousa. Olho para o relógio: exatamente 22 e 45. Caminha-se para o altar-mor.
O agente Ramalhete (da segurança) tenta afastar um padre que à viva força, quer
chegar junto do ‘jipão’ que transporta o Papa, ao lado de D. António Ribeiro e
do bispo de Leiria, todos semisubmersos por trinta outros homens da segurança,
portugueses e italianos. Ramalhete começa a marcar o padre, rapaz ainda, olhos
negros, cabelo muito preto, ar asiático. (…). O Papa começa a subir os degraus
para o altar-mor. É ao centro que avança. Subitamente, há um vulto negro que se
estatela, no penúltimo degrau. Pequeno, muito leve rumor, a multidão sem nada
perceber, imaginando apenas que um padre sofrera um colapso, que a emoção era
muita. De chofre, porém, o vulto negro dá um salto e começa a gritar: fala do
Vaticano II, do Concílio, não se entende bem onde quer chegar. Tudo num ápice:
quando aparece no chão, tem em cima o subchefe Moura, que quando ergue do
degrau o padre tem a mão direita ensanguentada. O padre continua a gritar, sempre
em espanhol. O Papa ,
que quando viu um sacerdote tombado voltara atrás para o ajudar a erguer, não
entende o que se passa a dois metros. Só o agente Azevedo sabe bem: foi ele
quem, com o pé direito, rasteirou o padre, provocando a primeira queda. Azevedo
empurra imediatamente o Papa, mas ainda tivera tempo para pontapear uma bolsa
onde o colega Moura mergulhou a mão: sai de lá com sangue”. Na bolsa estava uma
baioneta de 37 cm
de uma espingarda Mauser de 1914 e o padre era Juan Hernandez Krohn, espanhol,
32 anos: “utilizei um sabre porque não queria atingir o coração da Igreja com
uma arma de fogo”. O padre Feytor Pinto julgou-o: “aquele sujeito é um
fanático. Falou da situação da central polaca Solidariedade, da situação dos
católicos na Polónia, do comunismo internacional, das excessivas aberturas da
Igreja após o Concílio Vaticano II”. Num comunicado a PJ abcendeu-o: “os dados
já recolhidos apontam, neste momento, no sentido de se tratar de uma ação
isolada com motivação eventualmente religiosa, porventura relacionada com a
formação eclesiástica recebida por aquele padre no seminário de Ecône, na
Suiça, fundado por monsenhor Lefèbvre. Sabe-se que o detido havia anteriormente
concluído a licenciatura em economia e em direito”. Monsenhor Lefèbvre lavou os
polegares: “desde que é padre causou-nos muitas dificuldades e aborrecimentos…
Já não faz parte da fraternidade há cerca de dois anos” [11].
A
compaixão católica frechou os romeiros. “‘Se fosse eu que mandasse – dizia na
noite do dia 12 um peregrino de Viseu – fazia a esse malandro o mesmo que ele
queria fazer ao Papa’. Uma mulher de uma aldeia de Aveiro achava pelo contrário
que o agressor do Papa não devia ser condenado ‘à morte’ mas sim ‘castigado aos
poucos e poucos’: ‘punha-se uma gota de álcool em cada unha dos pés e das mãos
e depois pegava-lhe fogo’”.
Sexta-feira,
14, “o helicóptero que transportava o Papa aterrou esta manhã no Terreiro do
Paço, em Vila Viçosa
(…). A recebê-lo o calor indesmentível de quantos, alentejanos ou espanhóis,
acederam ao convite para virem ver o responsável da Igreja, em pleno Alentejo , um
local que é considerado um dos maiores centros marianos portugueses. ‘Ide vós
também para a minha vinha e tereis o salário que for justo’ – eis o mote para
as palavras que o Papa aqui pronunciou esta manhã (…). O Papa aprofundava ainda
mais a sua análise das questões relacionadas com o salário justo. ‘Neste ponto
é imperativo reconhecer o lugar privilegiado de quem trabalha a terra, quer se
trate de agricultores proprietários ou de simples trabalhadores não proprietários’”.
Pelas 17:00 horas celebrava missa no parque Eduardo VII. “Foi o maior acto de
culto até hoje celebrado em Lisboa: centenas de milhares de pessoas ouviram o
Papa falar da ‘gesta do Portugal missionário’, lembrar que ‘para chegar ao bem
é preciso passar pela renúncia’, que Deus deu ao Pontífice máximo da sua Igreja
‘a graça de amar muito os jovens’. ‘Gostaria de falar convosco. De olhos nos
olhos, de coração a coração. Falar com cada um: mas o reino de Deus está
próximo’”. Sábado, 15, “o mau tempo que persiste em toda a faixa do litoral
norte de Portugal alterou o timing da
visita do Papa ao centro e norte do país. Obrigado pelas más condições
climatéricas a andar de comboio, e não de helicóptero como inicialmente
previsto, João Paulo II viu o seu programa substancialmente atrasado. O atraso
verificado corre o risco de impedir o Santo Padre de estar às 23 horas em Roma,
onde, segundo uma fonte eclesiástica, ‘tem impreterivelmente de estar para
assunto importante’. João Paulo II, que se dirigiu esta manhã aos estudantes de
Coimbra com um ‘Olá Malta!’, antes de proferir na universidade um discurso
essencialmente voltado para a cultura, [“entre as várias culturas, ocupa um
lugar de honra a Cultura portuguesa. Uma cultura plurissecular, rica, com características
bem precisas que a distinguem claramente da dos outros povos. Ela exprime o
próprio modo dos portugueses de estar no mundo, a sua própria conceção de vida
e o seu sentido religioso da existência”]. Seguiu depois para o Sameiro, na
serra do Pilar, onde o aguardavam desde as primeiras horas de hoje milhares de
peregrinos, na sua maioria espanhóis. Depois do Sameiro, João Paulo II
dirigir-se-á ao Porto onde, na praça Humberto Delgado, deverá proferir um
discurso consagrado aos trabalhadores industriais. Da praça Humberto Delgado, o
Papa irá diretamente para o aeroporto de Pedras Rubras onde embarcará no avião
que o levará de regresso a Roma”: “brota-me do mais íntimo da alma esta
súplica: desça sobre todos os portugueses a bênção de Deus que lhes seja
portadora de dons abundantes de luz, de alegria e de paz” – despediu-se o Papa,
num ano de muito sarrabulho.
__________________________________
[1] O salário
mínimo era de 10 700 escudos. Em 2012, o salário mínimo sendo 485 euros cada
cabeça da nação portuguesa deve 20
mil euros.
[2] “Cada português teria de
trabalhar cinco meses gratuitamente para liquidar as contas externas do país,
atendendo ao montante da dívida do Estado para com a banca e a finança
internacionais (que está a ultrapassar, rapidamente, os 770 milhões de contos)
e o salário médio nacional (que é da ordem dos 15 mil escudos). Mesmo assim,
seria necessário que durante esse tempo todo aquele trabalho fosse voltado para
as exportações e no período de quarentena nacional se fechasse a torneira das
importações que dia a dia não cessa de alargar as contas públicas e ameaça
mergulhar o país numa situação catastrófica, se não mesmo de bancarrota”. A
governação foi de excelência e, 30 anos depois, cada português deverá só 18,3
mil euros ao estrangeiro, isto é, apenas 13 meses de trabalho.
[3] Se a mão não estiver
estendida. No futuro (2012), o primeiro-ministro Passos Coelho: “uma nação que
tem amor-próprio não anda de mão estendida nem a lamentar-se”.
[4] Os bófias são pardos todo
o dia e o jornalista confundi-os. O valentaço libertador foi o coordenador e
supervisor dos interrogadores do etarra José
Arregui, morto após vários dias de tortura: “certos
homens de Ballesteros, comigo como supervisor e coordenador, participaram no
interrogatório do assassino José Ignacio Arregui”, Joaquín
Domingo Martorell: “Julio Iglesias manteve contactos comigo sempre que
vinha a Espanha. Agora, depois de muita consideração, decidi pedir a minha
licença temporária da polícia e mudar-me para os EUA para trabalhar nos seus
negócios”.
[5] Chuva dourada verter-se-á
sobre Ângelo Correia no futuro (2012). Maltratado pelo Estado que lhe paga uma esquelética
pensão de 2 200 euros por serviços prestados, pela força braçal eleva-se a 32º
mais poderoso da economia, pela força vocal carimba sociologia: “é suposto
na democracia escolherem-se os melhores, vamos supor que eu sou bom – não é
verdade – sou chamado para uma área do Governo onde eu pratico a minha vida
profissional, quando eu sair ‘tou impedido durante seis anos de lá voltar, o
que é que eu vou fazer?”. (…). “Mas quais conflitos de interesses?! Porque é
que a gente à partida há de pensar que um cidadão que vai p’o Governo vai olhar
p’o seu interesse, não p’a pátria”. E avisa: “um dia aparece um populista
demagogo que ganha eleições que o nosso risco não é, o nosso risco não é o
autoritarismo, o nosso risco não é um golpe militar, longe disso, os militares
são os primeiros amantes da paz e da democracia, nós hoje estamos numa
democracia e temos de defender os nossos militares”, no programa “Olhos nos
olhos”, tvi24.
[6] Foi um fartar de folhagem
publicitária: “Banco
Nacional Ultramarino pessoas experientes para pessoas exigentes”; - “primeira
conta BPA o futuro acontece”; - “Banco Português do Atlântico
uma questão de estilo”; - “Crédito
Predial Português um banco com respostas”; - “Nova Rede grupo BCP por
si até onde for preciso”; - “Banco Comercial Português dinheiro que pensa”; - “Banco Fonsecas & Burnay
dedicado a si”. No futuro (2012) os clientes retribuirão a simpatia e atenção:
o BCP será resgatado
com 3 500 milhões de euros; o BPI com 1 500 milhões; o Banif com 1 100 milhões;
e a C G D, banco do
Estado para sentar colegas dos partidos políticos, com 1 650 milhões. No
entanto, outros países ainda serão bancáveis: Millennium Angola.
[7] Como todos, o dr. Borges
tinha visão de futuro. “Reforçou a sua argumentação com as posições de
insuspeitos professores americanos e canadianos, a tendência a nível mundial é
para a tomada de controlo de toda a atividade bancária por parte dos Estados.
Seja diretamente por via de nacionalizações ou indiretamente pelo reforço do
papel das autoridades monetárias nacionais. Deste modo, e em sua opinião, não
está longe o dia em que a atividade bancária esteja incluída no setor público
em quase todo o mundo”.
[8] No futuro (2013) os
portugueses enfardar-se-ão de carne de cavalo: hambúrgueres de cavalo 0,30 € /
unid.; guisar ou estufar com osso 1,99 € / kg; carne para estufar 2,99€ / kg;
carne picada de cavalo 2,99€ / kg; bife de cavalo 5,98€ / kg.
[9] Os preços atuais são em
conta: cavalo, uma quarta, 15 €; coca, já em base, 10 €. “Quarta” é o calão
para um quarto de grama, no final da década de 80 custará 2 500$00, nos tempos
de maior concorrência entre empreendedores do pó comprava-se quartas com meio
grama.
[10] No futuro debate-se a
bondade do FMI. Augusto Santos Silva, ministro da Defesa do Governo de José
Sócrates, na campanha eleitoral de Manuel Alegre (2011): “é que o projeto político
da direita portuguesa é um projeto de cedência, é um projeto de resignação, é
um projecto que saliva com a simples possibilidade de retirar proventos
partidários imediatos de uma eventual entrada do FMI em Portugal. Quem os
viu ontem (aplausos), quem os ouviu ontem, quem os viu ontem, tão animados com
essa possibilidade de retirar proventos partidários imediatos, de acontecer,
eventualmente, esse seria um problema sério para Portugal, percebe bem que em
cada momento estão disponíveis para pôr interesses partidários acima do
interesse nacional”. Passos Coelho, em 2010, ainda candidato a
primeiro-ministro: “trabalharei com o FMI, se for essa a forma de ajudar o
país. Para isso é que Portugal faz parte do FMI”. “De mim não ouvirão frases
como: daqui não saio nem à bomba, nada desse género, não quero cá ficar como
semente”. “Estamos como o Churchill, a seguir à guerra, disse que tudo o que
tinha para oferecer era sangue, suor e lágrimas”. “Foram precisos quase 15 anos
de despreocupação absoluta, vai-nos demorar cinco ou seis a tirar o corpo da
pancada”. Santos Silva, o pensador do Governo Sócrates, responde: “houve ali um
sinal de alguma imaturidade política, perdoe-me a expressão, até dá a ideia de
uma certa necessidade de chegar ao poder a todo o custo e a todo o preço. Mas
os tempos não são de ansiedade nem de imaturidade, admitir sequer, como
possibilidade, a entrada do FMI em Portugal, é pôr em causa, no dia seguinte à
aprovação do Orçamento de Estado, a nossa capacidade de cumprir esse
Orçamento”. Paulo Rangel, eurodeputado, homem viajado nas capitais, afinca (2012):
“e essa credibilidade externa de Portugal está mais do que afirmada, apesar de
em Portugal haver todos estes movimentos, toda esta contestação, eu posso lhe
dizer que os Governos europeus, os líderes europeus, têm um profundo, digamos,
respeito e acreditam muito! nos esforços que está a fazer o Governo português,
não tenho dúvidas nenhumas sobre isso. O prestígio de Portugal hoje, e do
primeiro-ministro, do ministro das Finanças, é enorme. Portanto, isso é um
capital muito grande, mas justamente a partir do momento em que temos esse
capital, acho que o devemos usar agora! com as novas circunstâncias, nova política
do BCE, nova visão do FMI, para tentarmos, enfim, pudermos encontrar
pressupostos que a praaaazo, não é amanhã, não é depois de amanhã, não é
porventura ainda em 2012, possam minimizar algumas…”.
[11] Condenado ao bloguismo: "Periodista Digital".
[11] Condenado ao bloguismo: "Periodista Digital".
na sala de cinema
“Emanuelle
fuga dall’inferno” (1983): “Emanuelle, uma repórter, está
demasiado perto de denunciar um funcionário corrupto e é presa sob falsas
acusações. Na cadeia, as presidiárias são constantemente humilhadas e torturadas
pelas guardas. Prisioneiras excessivamente boazinhas enfiam-lhes a cabeça
debaixo de água enquanto as outras são obrigadas a ver. Emanuelle encontra uma
inimiga na demente Albina que ‘controla a prisão’. Para deleite da diretora,
Emanuelle e Albina são forçadas a lutar uma com a outra com facas. O mau
torna-se pior quando quatro homens, aguardando execução, escapam e dominam a
prisão”. Para
rentabilização de meios, investimento e corpos
nus, em simultâneo, com o mesmo casting,
foi rodado “Violenza in un
carcere femminile”: “Emanuelle entra na prisão sob disfarce para expor
funcionários corruptos que brutalizam as presas. Emanuelle está chocada com os
horrores e humilhações a que as prisioneiras são submetidas, mas quando a sua
verdadeira identidade é descoberta, ela recebe o mesmo tratamento”. A atriz Laura
Gemser, nascida em Java, Indonésia, de descendência hindu, satisfazia uma
necessidade de mercado: o gosto cinéfilo europeu por carne preta, mormente
despoletado pelo erótico sucesso da ítalo-eritreia Zeudi
Araya,
miss Etiópia 1969, filha de um
político da Eritreia e sobrinha de um diplomata em Roma, o esplendor sobre o
corpo de “La ragazza dalla
pelle di luna”
(1972), com a atriz ítalo-sérvia Beba
Lončar e filmado nas Seychelles ou “La ragazza fuoristrada”
(1973), onde também canta para a banda sonora [1]. Laura Gemser despira-se pela boa causa dos
mercados em “Black
Emanuelle” (1975): filme que “segue uma aventura erótica de Mae Jordan, uma
hedonista jornalista de investigação e fotógrafa, viajante do mundo, conhecida
pelos seus leitores como Emanuelle”, um dos “emes” é suprimido por questões de copyright [2].
Gemser fora massagista na Emmanuelle com dois “emes”, “Emmanuelle 2” (1975), com
Silvia Krystel. Os mercados não dormem, produzem riqueza todos os segundos, e a
atriz israelita Shulamith
Lasri deu o
corpo ao celulóide para “Black
Emanuelle 2”
(1976). Ulteriormente a repórter e fotojornalista globe-trotter Emanuelle vasculhará o mundo pela câmara depravada de
Joe D’Amato; primeiro, com classe: “Emanuelle
in
Bangkok
/ Emanuelle nera - Orient Reportage” (1976) para uma reportagem sobre os ritos
sexuais orientais com banda
sonora de Nico Fidenco; depois, com badalhoquice: “Emanuelle in America”
(1977): “de câmara a tiracolo, expondo o ventre perverso da sociedade, uma
orgia de cada vez. Segue-as de um harém da classe alta, para se misturar com a
aristocracia veneziana, uma espécie de spa
para senhoras ricas, e finalmente depara-se com uma rede de filmes snuff”; nos estábulos do ricaço Eric van
Darren (Lars Bloch), Emanuelle e outras convivas de uma festa ecfráctica espreitam
uma mulher (Maria
Renata Franco) a masturbar Pedro, – tudo
normal na arquitetura de Deus da mão feminina para os cabos: da vassoura, da
faca e do falo, não fosse Pedro… um cavalo; com
banda sonora de Nico
Fidenco; “Emanuelle Around the World / Emanuelle - Perché violenza alle donne?” (1977): “é
convidada para a Índia, para escrever um artigo sobre o guru Shanti, o homem
que reivindica ter conseguido o orgasmo perfeito. Uma vez lá, envolve-se numa
variedade de actos sexuais, incluindo um com o guru, ela desmente a sua teoria.
Então, vai para Hong Kong para investigar o tráfico de mulheres. Quando
regressa à America, junta-se com a colega repórter Cora Norman (Karin Schubert) e ambas
bisbilhotam uma pista de homens a contrabandear mulheres para o Médio Oriente”;
num ginásio, Chang disciplina
as novas escravas sexuais, uma é montada por um pastor alemão, outra pela
introdução de uma cobra
na vagina; com banda
sonora de Nico Fidenco; “Emanuelle
and the Last Cannibals
/ Emanuelle e gli ultimi cannibali” (1977) “ao trabalhar infiltrada num
hospital psiquiátrico, Emanuelle depara-se com uma rapariga que parece ter sido
criada por uma tribo de canibais amazónicos. Intrigada, Emanuelle e amigos
viajam ao interior profundo da selva amazónica, onde descobrem que a extinta
tribo de canibais está ainda muito viva e Emanuelle e a sua comitiva não são
visitantes bem-vindos”;
sangue, castração, violação, canibalismo, desmembramento, com banda sonora de Nico
Fidenco; “Suor
Emanuelle”
(1977) “renunciando ao seu passado pecaminoso, Emanuelle entrou para um
convento e tem-se dedicado a uma vida de obrigações. Entra a Monika Catsabriaga
(Mónica
Zanchi), filha de um abastado barão, inconformista e adepta do amor livre.
Emanuelle é encarregada de manter a Monika
na linha, mas quando o espírito selvagem da jovem traz de volta memórias do seu
passado sensual, Emanuelle começa a questionar a sua própria identidade
religiosa e sexual”; “Emanuelle
and the White Slave Trade / La vida della prostituzione” (1978) “ao tentar
entrevistar um evasivo gangster, a
fotojornalista Emanuelle repara num homem a empurrar uma rapariga numa cadeira
de rodas através do aeroporto. Mais tarde, noutro país, vê o mesmo homem e a
rapariga em pé e a andar. Intrigada, faz um pouco de investigação e descobre
uma organização lidando com a compra e venda de mulheres jovens. Ela
infiltra-se na organização mas descobre que sair novamente pode custar-lhe a
carreira e a sua vida”;
com banda sonora de
Nico Fidenco; “Emanuelle’s
Daughter: Queen of Sados
/ I mavri Emmanouella” (1980), com Livia Russo: “depois
de anos de abuso nas mãos do marido, Emanuelle está num ponto de rotura.
Contrata um assassino para matá-lo, mas quando ela pensa que os seus problemas
terminaram, o assassino chantageia-a. Enquanto o sócio do seu marido tenta
provar a sua culpa e o assassino continua a ameaçá-la, Emanuelle luta para
manter limpo o seu nome, e impedir a ingénua enteada de 14 anos de se enredar
na teia de perigo que ela criou”; “Divine
Emanuelle: Love Camp
/ Die Todesgöttin des Liebescamps” (1981), com Simone Brahmann:
“a filha de um senador americano é arrastada, para um culto de amor livre hippie chamado Filhos da Luz, pelo
namorado loiro da líder do culto, uma misteriosa e bela asiática. O culto
revela-se não ser bem uma comunidade de amor livre como pretende”. “Emanuelle: Queen of the Desert / La belva dalle calda pelle” (1982) “no início,
vemos Sheila (Emanuelle para fins comerciais), atraindo um soldado para uma
armadilha e matá-lo. Então ela conhece quatro dos seus camaradas e melosamente
oferece-se para os guiar até à fronteira. Não sabemos que país é (aparentemente
africano mas, na verdade, filmado na ilha de Chipre), nem por quem lutam os
soldados ou por que estão perdidos”. Laura
Gemser comprazeu os mercados com outros filmes como: “Eva
Nera”
(1976); “El
periscopio / Malizia erotica” (1979), com Bárbara Rey; “Erotic
Nights of the Living Dead / Le notti erotiche dei morti viventi” (1980),
com Dirce
Funari; “Amore
sporco” (1988), com Valentine Demy…
__________________________________
[1] No mercado de carnes, uma
outra cor variega a paleta da liberdade de escolha, uma Emanuelle amarela: “Il mondo dei sensi di Emy
Wong” (1977), estreado dia 22 de outubro de 1980 no Odeon, com Chai Lee e a
inocente ítalo-húngara Ilona Staller. Casta deputada do parlamento italiano
(eleita em 1987 com 20 000 votos) e cândida atriz de “L’ingenua” (1975) ou de “La
liceale” (1975) com a espantosa Gloria Guida, cujo 1,70 m , 56 kg , 86-60-86, foi o corpo
quente das comédias italianas dos anos 70: – “La
minorenne” (1974); “La
ragazzina”
(1974); “Quella
età maliziosa” (1975); “La
novizia” (1975); “Scandalo
in famiglia” (1976); “L’affittacamere”
(1976); “Avere
vent'anni” (1978); “La
liceale, il diavolo e l'acquasanta” (1979); “L'infermiera
di notte” (1979); e cantora. – Entretanto, Ilona
Staller prosseguiu mais grossa carreira na arte cinematográfica, chamavam-lhe…
Cicciolina. (“Em setembro de 2011, foi revelado que Staller era beneficiária e
receberia uma pensão anual de 39 000 euros do Estado italiano, como resultado
dos seus cinco anos no parlamento do país. Reagindo à controvérsia suscitada
pela notícia, a ex-estrela porno, que começou a receber a pensão em novembro de
2011, quando completou 60 anos, afirmou: ‘eu ganhei-a e estou muito orgulhosa
disso’”).
[2] Outras despirão a
camisola pelos dois “emes” como Monique Gabrielle, americana, 1,68 m , 59 kg , 86-60-86, Pet
do Mês da Penthouse de dezembro 1982, em “Emmanuelle
5” (1987); Natalie Uher, austríaca, 1,78 m , 89-73-92, playmate
do Playboy
alemão de setembro 1984, em “Emmanuelle
6” (1988), filmado na Venezuela; ou na série “Emmanuelle The Private
Collection” (2004-06), a compositora, cantora e modelo
holandesa, olhos azuis, cabelo loiro claro, 1,78 m , 90-63-89, Natasja
Vermeer.
no aparelho de televisão
“Homens da segurança” (1988) série televisiva
de nacional estrepitante ação vivida por dois seguranças de um hotel na
península de Tróia. Um gorducho, durão, Carlos
Jorge, o Cajó, (Nicolau Breyner), escarninho da autoridade, obediente ao
dever, o outro, Filipe Sarmento (Tozé Martinho), apessoado, playboy, um James Bond, como lhe alcunha
o bófia local, o subinspetor Humberto Fernandes (Morais e Castro). Com a melhor
atriz portuguesa, Manuela Marle, argumento de Manuel Arouca, o melhor autor
português, os seus diálogos são rubenfonsequianos [1],
brutalistas. Filipe: “mas afinal quem é que paga a conta?”, Luísa (Manuela
Marle): “quem é que paga? então, pagamos a meias”, Filipe: “a meias? Mas foi
você que me convidou para jantar, afinal, é ou não é uma mulher independente?”,
Luísa: “sou independente mas não sou parva”, Filipe: “então se não é parva,
dê-me um beijinho que eu pago o jantar” /
Filipe: “para dizer a verdade, nunca gostei muito de estudar, sabe?”, Luísa:
“não? Então gosta de quê?” (os dois na praia, acontece marmelada, ele por cima,
ela, de bela nádega, com os pés enterrados na areia) /
Luísa: “que é que você está à procura?”, Filipe: “não, nada, é que, vi-a a
falar com aqueles e pensei…”, Luísa: “aaaai, o menino é ciumento, não lhe
conhecia essa faceta” / Luísa: “você quer sais
de fruto?”, Cajó: “isso não, faz muito barulho” /
Vítor Mesquita (Henrique Santana): “antigamente, as senhoras perfumavam-se com
requinte, com gosto, educação. Olha, tocavam piano, falavam francês, ah ah não!
Olha, mon dieu, tinham chique, como dizia o Eça, chique, e depois sabiam
escolher os seus confidentes a dedo. Hoje qualquer rapariga confessa os seus
problemas existenciais a qualquer garotilho no metropolitano e até mais baixo
que o metropolitano … agora, assim, é que não servem. Uma mulher que numa casa
de jantar começa ali catadupas de lágrimas para a sopa, lágrimas na sopa, oh oh
são umas histéricas, umas histéricas” / Luísa:
“claro que passei! Foi a nota melhor de todas. 15, Filipe, 15 a sucessões”, Filipe: “que
bom, hã? ‘tá a ver, isso é que foi estudar, valeu a pena”, Luísa: “ah! até não
estudei assim muito”, Filipe: “não? então?”, Luísa: “usei minissaia” / Sofia Moreira (Teresa Clode): “mas você ‘tá em Direito
ou ‘tá em Psicologia?”, Luísa: não. Como eu disse há pouco, eu estou a tirar o
curso de Direito, só que você não se pode esquecer de uma coisa muito
importante, é que eu já estou neste hotel há mais de três anos, é a
experiência”, Sofia: “oh, então deve conhecer muito bem o comportamento de uma
mulher em férias”, Luísa: “se conheço” / Filipe:
“não bebo whisky, nunca … só bebo vinho do Porto” /
Sara (Carla Matta): “mas tu já viste o caso de jogadores que se deram mal lá
fora? Sei lá, o Chalana, o Gomes, o Oliveira”, Chico (Gonçalo Garnel): “eu sou profissional,
se me pagarem” / Filipe: “sabe que no caso do Eusébio
registaram-no com o nome de Rute?”, Tomás Mendonça, diretor do hotel (Baptista
Fernandes): “o Eusébio, Rute? ah ah ah essa é boa, eu não percebo nada de
futebol e eu não sabia” / Vítor Mesquita, subdiretor
do hotel, a quem apelidaram Mon Dieu por ter sido emigrante na Suiça: “você seu
gordalhufo do charuto, charutos baratos e repelentes e mal cheirosos, fique
sabendo, quando não está cá o diretor sou eu que tenho de tomar conta do hotel”
/ Cajó: “o Mon Dieu apareceu aí há bocado,
apontei-lhe a pistola, até começou a falar português”. “Festa é Festa” (sábado, 16 de outubro, 1982
– sábado, 25 de junho, 1983), estreou espetacular, com Baby Consuelo / Pepeu Gomes
e o pitedo na plateia numa histeria extrema com os Duran Duran [2]. O programa intercalava música e humor. Uma das
rábulas, de Maria Vieira como o chinesinho Faz Chi Chi, aborrecia a embaixada
chinesa em Lisboa. A
populaça, numa época ainda de reduzida comunidade chinesa em Portugal, gritava-lhes
“Faz Chi Chi!” quando se cruzava com um, e nem o embaixador escapava. Após
reclamação oficial, a personagem foi cancelada.
__________________________________
[1] Rubem Fonseca, no livro “Feliz Ano Novo”: “O quarto
da gordinha tinha as paredes forradas de couro. A banheira era um buraco
quadrado grande de mármore branco, enfiado no chão. A parede toda de espelhos.
Tudo perfumado. Voltei para o quarto, empurrei a gordinha para o chão, arrumei
a colcha de cetim da cama com cuidado, ela ficou lisinha, brilhando. Tirei as
calças e caguei em cima da colcha. Foi um alívio, muito legal. Depois limpei o
cu na colcha, botei as calças e desci”.
[2] Na véspera dos seus
primeiros concertos
em Portugal, Porto 17
de outubro, pavilhão Infante de Sagres, Lisboa dias 18 e 19, pavilhão Dramático
de Cascais, bilhete 450$00. Na época, os seus fãs pátrios eram fortemente conotados
com larilas, de rímel, camisas de folhos ou blusões com fechos éclair, no
trajeto para Cascais, sofriam insultos da malta mais camionista.
na aparelhagem stereo
António
Manuel Ribeiro [1], um gatilho da síndrome de Clérambault
– ou erotomania em Portugal, seu adónico espelho despoletou um delírio erótico fantasioso
numa admiradora [2], – guitarrista e vocalista dos
UHF, invoca ruas sem regresso: “esta rua do Carmo é manancial de coisas
bonitas, não é? por que a ‘Rua
do Carmo’ começa por ser escrita quando eu andava a estudar no liceu D.
João de Castro e eu tinha de vir aqui todos os dias, ou fosse na ida para as
aulas ou no regresso, eu tinha de passar pela velha Custódio Cardoso Pereira,
loja de música que hoje já não existe, a discoteca Melodia também não existe e
a Valentim de Carvalho também não existe, e que desapareceram com o fogo”. – Em
1988 o incêndio do Chiado coordenou duas portugalidades. Uma, um exemplo, a
outra, uma causa. É um exemplo da inteligência paralela nacional, urbanistas da
Câmara de Lisboa embelezaram a rua do
Carmo com candeeiros, canteiros, muros e bancos para aprazimento turístico, esqueceram-se
dos carros dos bombeiros, quando o Grandella inflamou-se, não havia espaço para
eles. E causou o efeito bicicleta, isto é, pedalou para a frente o centro da
cultura musical ardendo os arquivos da Valentim de Carvalho e encerrando a
discoteca do Carmo. Hoje, a rua, poluída pelo fado regurgitado pelo ex-carro
dos chocolates, lambe-se gelados Santini.
Lausperene! O futuro cultural nacional está assegurado com o
concorrente do primeiro Big
Brother (2000) Marco Borges; futuro musical:
“Encontrei”: “olha… er
er er… liderou. E esse foi, de facto, o único motivo pelo qual eu deixei de
cantar, porque eu como fã assumido dos U2, quando vi que estava à frente de
Bono Vox, liguei-lhe inclusive, e disse-lhe: Bono, eu vou-te ser sincero, nunca
pensei que isto acabasse desta forma. Garanto que eu nunca mais vou cantar e
retirei-me e cumpri a minha promessa”; e futuro livreiro: “já passaram 10 anos,
não é? e agora vai sair um livro que a Marta está a escrever, um livro, e acho
que passados 10 anos, nós todos recordamos e já passou o tempo suficiente pra
nós abordarmos tudo o que vivemos lá dentro, tudo o que se passou lá dentro. Eu
acho sinceramente foi, reforço, pá, foi uma aventura fantástica” (programa 5
para a meia noite c/ Luís Filipe Borges).
O
estado no sítio, no:
Ku de Judas, 1983, Alvalade,
escola secundária padre António Vieira, vocalista João Pedro Almendra: “no
princípio dos Ku de Judas, por volta de 1983... o Serpa tocava guitarra, eu
tocava baixo e o Bago D’Uva estava na bateria. Mas isso mudou com a entrada dos
outros elementos: João Ribas (guitarra) e o Carlos Aguilar (bateria)”; o nome
deriva de o Bago D’Uva ter de ir a casa de uma tia na Marteleira, Lourinhã, que
ficava no… cu de Judas ► “Anarkia em Portugal” ◙ “Violemos
o Presidente”. Continuidade: João Ribas funda os Censurados e está n’ “a génese
dos Tara Perdida remonta
ao ano de 1995 - mais precisamente ao dia 10 de junho de 1995. Foi exatamente
no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, que os músicos se juntaram
pela primeira vez no bairro de Alvalade” (site). João Pedro Almendra em 1987
sai para os Peste &
Sida: - “a Paulinha
é uma miúda que existe. É uma amiga pessoal, que conheci através de umas bandas
e que parou muito em
Alvalade. Era muito gira: tinha o cabelo preto, olhos verdes
e era simpática. Foi uma brincadeira que acabou por tornar-se num mitozinho.
Foi a Paulinha como podia ter sido outro nome. Representa um bocado aqueles
amores perdidos. Calhou naquele caso haver ali uma espécie de paixão platónica
por ela”;
em 2003 Almendra funda os Punk
Sinatra. Fernando Serpa morreu em
agosto de 2010. ♪ Crise Total, 1983, Algueirão,
Manolo (voz), Rui Ramos (guitarra), Paulo Ampola (baixo) e João Filipe
(bateria), em 1984 são banda revelação no 1º Concurso do Rock Rendez Vous ► “Assassinos
no poder” (1984) ◙ “Queremos
anarquia” (1996) ◙ “A crise
continua” (1996). Continuidade: Rui Ramos está nos Rolls Rockers, esteve
nos Profilaxia e nos Feijão
Freud. Paulo Pereira (“Ampola”), um dos fundadores dos Censurados é
sargento na Marinha. João Felipe emigrou para o Canadá, regressou à banda em
1995, vive nos Açores. Xico, (voz) ex-Subcaos, na banda entre 95-97, funda os The No-Counts Doctrine Of
Mayhem. ♪ Subcaos, Lisboa, verão, 1991, “Francisco
Dias (aka Xico), João Abrantes, Rui
Abrantes e Hugo Begucho, tendo-se esta formação mantido até à Primavera de
1993, altura em que, saindo Rui e Hugo, entrarão novos elementos, Diogo, Topê,
Libelinha (ex-C.O.R.) e David. Em abril de 1992, o grupo grava e edita a sua
primeira cassete intitulada ‘Genocídio’ e no ano seguinte aventuram-se numa
tournée europeia e editam um split EP
com os Hiatus, grupo crust belga que os acompanhara” ► “Sugadores”
◙ “Metal
Punk Death Squad” (2009) ♪ Corrosão Caótica, 1988, Benfica, Lisboa, Rui Lucena (bateria),
Miguel “Zé Gato” (baixo), Penas (voz) e Cruche (guitarra), em 1989 com João
Morais (guitarra) e Paulo “Piranha” (voz) ensaiavam na cave do Penas ► demo “Mais uma história de amor”
(1990) ◙ apresentação no Johnny Guitar do EP “União e
Okupação” (1992), refrão: “Ajude a polícia, bata-se você mesmo”. ♪ Grupo Parlamentar, banda do irmão de Kalú dos Xutos ► “Na minha terra”. ♪ TiLT, Porto, chamaram-se Autocolantes, Aníbal Ferreira
(voz), João Antero (guitarra solo), Paulo Fuentefria / Paulo Melo (teclas),
Mário Luís (guitarra ritmo), Luís Filipe (baixo) e Rui Ferraz (bateria) ► “Aqui neste país” ◙ “Bolinhas de sabão”. ♪ Speeds, Lisboa, finais de 70, João Braz (voz), Ricardo
(guitarra solo), Pedro Oliveira (guitarra ritmo, harmónica), João Ejarque (baixo)
e João José (bateria) ► “Today Is Not A Good Day”
(1980), 1º lugar no top do programa
Rock em Stock: “nós lisboetas, temos uma dicção que não é fácil enquadrar-se no
rock. Por enquanto vamos seguir os
objetivos inicialmente propostos de cantar em inglês, embora já tenhamos na
gaveta, qualquer coisa em português, mas a gaveta está bem fechada. Cantar em português
seria uma experiência bastante aliciante. Gostávamos muito de cantar em português
até porque gostaríamos de transmitir qualquer mensagem com as letras das nossas
músicas, mas neste momento ainda não temos condições criadas para isso”
(fotos).
Continuidade: alguns membros formaram os Meninos do
Coro ► “Há revolta no zoo”. ♪ Vómito, 1986, Queluz, Zé Vilão (voz), Nuno Rafael
(guitarra), João Miguel (baixo) João Leitão (bateria), gravaram duas demos: “30 minutos com…” (1988) e
“Jequepote” (1989) ► “Os putos da rua” (1988) ◙
“A pita da velha”
(1989). Continuidade: Zé Vilão nos Peste & Sida. Nuno Rafael nos Peste & Sida, Despe &
Siga, diretor musical de Sérgio Godinho, dos Humanos, etc. ♪ Bastardos do Cardeal, 1982, Viseu, “Victor Vicente
(bateria), Luís Vaz Patto (baixo e voz) e José Pedro Athayde (guitarra). Pouco
tempo depois, ainda em Viseu, José Valor (guitarra) é admitido na banda,
substituindo José Pedro Athayde que saíra para formar os Dead Dream Factory. Valor
tinha uma velha guitarra portuguesa que não sabia tocar e com a qual se
apresentou - devidamente eletrificada à sua maneira -, sendo talvez a melhor
coisa que aconteceu, na altura, ao projeto, pois operou nela a transformação
sonora que, nessa altura, se mostrava necessária, fazendo-a emergir duma
adolescência que tardava em acabar”,
em 1985 entra Luís Morgadinho (voz) ► “Aranha”: “A aranha quer
caçar / Preso na teia / Pensas escapar / Na teia que a ajudaste a montar / Sorris
pra nova visão / Do presidente que impera / E que te diz que não” ◙ “O verme”. Continuidade:
Zé Valor no Centro de Pesquisas Ruído Branco ► “Ó
Maria, vem cá”, nos Lucretia Divina ► “Maria”;
com Vaz Patto, mais Ângelo Almeida formam em 1990 os Major
Alvega ► “Transpirar”. ♪ Renegados de Boliqueime, 1993, Porto, Frágil (voz),
Guerra (guitarra), Rui (baixo) e Giró (bateria): “o seu estilo é reminiscente
do street punk / oi! britânico, com
música agressiva e crítica, cultivando uma filosofia niilista e de apologia do
álcool e das drogas” ► “Troco Deus por uma cerveja”.
Continuidade: Frágil, nos Motornoise ► “Não”
e nos Frágil and the Alcoholic Friends. Giro, nos Freedoom
► “A morte não espera” e
nos Dokuga ► “Cicatriz”. Guerra, nos
Motornoise e nos Ghosts of Port Royal ► “Je
suis un grand zombie”. ♪ Reposta Simples, 2003,
ilha Terceira, Açores, Paulo Lemos (voz, baixo), João Pedro (guitarra) e João
Tiago (bateria); Paulo: “nós temos a ideia de querer fazer algo, como ‘tava a
dizer, do punk de intervenção social
e queremos fazer algo, sobre a próxima revolução, que será deveras importante,
seja uma revolução verde, ambiental. Tal como o nome próprio, o nome do EP,
chamado Gaia,
estamos a falar da mãe Terra e do ambiente e tudo o mais. Nós queremos
demonstrar o efeito que o ser humano tem no planeta Terra e a destruição…” ► “Revolução
pessoal” (2005) ◙ “Sem
cura” (2010). Menções punkhonrosas:
Minas & Armadilhas S.A.R.L.: ”Minas e
armadilhas / É só que quero / Minas e armadilhas / P'ra tudo rebentar / Minas e
armadilhas / A minha luta / Minas e armadilhas / O meu conspirar”;
vocalista Paulo
Borges, um aluno de filosofia tergiversado em budista, Paulo Ramos
(guitarra), Zé Eduardo (baixo) e Peter (bateria), sobram apenas fotos
& relatos:
2 de maio de 1979, concerto no liceu D.
Pedro V: “e entrou o segundo grupo, autêntico conjunto de minas e armadilhas
para a sensibilidade musical, mas que conseguiu ser melhor que o anterior.
Tocou foi um pouco demais, dado que as pessoas começaram a sentir a necessidade
de ir arejar um pouco a meio da atuação”; em outubro de 79, na Sociedade Alunos
de Apolo, João Cabeleira substituiu Paulo Ramos. ♪ Inkizição,
1988, Aveiro, ► “The Fascist Inside Me” ◙
“Até que alguém se foda”.
♪ Skamioneta do Lixo, Lisboa, ► “Aveztruz” (1996).
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[1] Áuspice: “o meu avô
paterno tocava concertina e fazia bailes sozinho. Eu comecei a cantar na
igreja, ao lado do meu pai, tenor de orfeão. Ia ver os saraus e cantava ao
domingo na missa. Já tinha uma voz forte, chamavam-me o ‘homem grave’. Tinha 12
anos” (no jornal i).
[2] “Ela ficava à porta,
ligava o alarme do carro. Sabia coisas da minha vida que remontam a 1989.
Mandou-me 1900 mensagens, dizia que a minha vida ia ser um inferno, com ameaças
de morte e castração com ácido sulfúrico”. Ana Cristina Fernandes, a
perseguidora, foi condenada em 2010
a dois anos de pena suspensa e ao pagamento de indemnizações
por danos não patrimoniais, 15 mil euros ao popstar
e 7,5 mil euros a Ana Seabra, sua namorada na data dos factos.