Estética, do grego “aisthetiké”, “aquilo que aparece aos sentidos”, significa, desde A. G. Baumgarten, a teoria do Belo. Conceito untuoso: para uns, o belo será Bar Raffaeli (Wiki): para outros, Candice Swanepoel ou Landi Swanepoel: outros, Alejandra Cata: outros, HRP-4C*. Platão, no Fedro, orbita-o para uma “ideia pura”, existente num hipotético Mundo Inteligível: “é pelo Belo que as coisas bonitas são belas”. No Filebo, conclui que a beleza sensível, aquela que nos é acessível, identificamo-la, por que contemplamos nos objectos, elementos dessa “ideia pura”: linhas, pontos, medida, proporção, simetria, cores. Resumindo, existe uma Ideia de Belo, autónoma, imutável, perfeita, exterior a nós, da qual as coisas participam, que as faz belas. Existe? Existia! O arquétipo platónico pulou a cerca. Saltou do Mundo Inteligível e caminha no Mundo Sensível. Não veio da Suécia**, como associam os libertinos. A Ideia de Belo, pela qual os filósofos empíricos bradariam: “ó Platão vem cá ver isto!”: é Donatella Versace em topless.
----
* “Desenhada para parecer uma japonesa média”.
** Ingmar Bergman e a sua Liv Ullman? Lasse Hallström e os seus Abba? Nada disso! A maior beleza sueca é Christina Lindberg. Nascida, polpuda, dia 6 de Dezembro de 1950 para deleite do ecrã de prata – “Maid in Sweden” (1969) Θ “Anita: Swedish Nymphet” (1973) Θ “Thriller: A Cruel Picture” (1974) – entumecendo a cultura europeia. E não só. Carl Gustaf, na época príncipe coroado, após galá-la no segundo filme, “Rötmånad” (1970), fê-la dar umas voltas no seu Volvo P1800. No início da década de 70, Christina editou, apenas na Suécia, um single: “Alt Blir Tyst Igen / Du Ar Min Enda Karlek”.
.
A câmara dos fotógrafos, das imagens paradas ou em movimento, tem captado algum Belo residual do quotidiano. Entre os retratistas, o casal Morris Engel e Ruth Orkin imprimiu distintos riscos na película de meados do século XX. No cinema, são pioneiros da Nouvelle Vague, reconhecidos por François Truffaut, com o filme “Little Fugitive” (1953), sobre a sobrevivência de um catraio em fuga por Coney Island*. Ruth Orkin é autora de “American Girl in Italy” (1951), um ícone da fotografia de rua, que “recria os problemas das mulheres quando viajam sozinhas: perguntar por direcções, pagar em moeda desconhecida, pedir comida, e lidar com o impulsivo fogo dos jovens”. Orkin fotografou a sua amiga Jinx Allen, estudante de arte, na esquina da Piazza Della Repubblica, como um provocador do piropo, tradicional instituição das culturas latinas: “i vostri pantaloni devono essere TMN, perché avete un culo che è un Mimo”**. Entretanto, no século XXI, a teclada proximidade das estrelas, escapando aos trabalhos mesquinhos pré-fama***, essas vedetas viraram a câmara para si, e as mulheres esqueceram-se de vestir a roupa, como Cassie, cujas fotos nua, subtraídas via Gmail, se globalizaram ▬ “Official Girl” Θ “Sometimes”.
----
* Imagens de Coney Island em 1940 Θ 1944 Θ 1952.
** No Inimigo Público: “as tuas calças devem ser TMN, porque tens um cu que é um Mimo”.
*** Gwen Stefani esfregou chãos; Keith Richards apanhou bolas num clube de ténis; Ozzy Osbourne trabalhou num matadouro; Warren Beatty caçava ratos…
.
[Bianca Ryan – uma das modas da indústria da TV, que os telespectadores veneram, mais do que a moda dos vampiros, (por favor, mordam-me… 75 cm abaixo do pescoço!!!), são os concursos com júris idiotas, exibindo expressões tontas, verbalizando cretinices, Bianca venceu um desses, America's Got Talent, em 2006. Nascida dia 1 de Setembro de 1994, o pai, fã dos Rolling Stones, baptizou-a com o nome da consorte nicaraguense de Mick Jagger, e não quer apenas 15 minutos de fama ▬ “And I Am Telling You I’m Not Going” Θ “I Believe I Can Fly”].
.
O Belo pinga nos anúncios de Carl Erik Rinsch, ou na fast food sexy, mas esse não é um Valor da nossa sociedade, sôfrega, infatigável, extrapassando-se na estética, naquilo que exibe aos órgãos dos sentidos*. O acaso, não a necessidade, desencadeou a “vontade de mostrar”**, esta informalidade, esta despreocupação, colada ao “pronto a servir” sepultou a noção de Belo. A nossa sociedade contenta-se com o Bonitinho: e o telemóvel reina. Em 2007, Vanessa Hudgens, vedeta da Disney, endereçou maliciosas fotos, com nu frontal, para o namorado, que requeimaram na Net. Ela pediu desculpa: a Disney, um canal de bons modelos pra família, na sua infinita bondade: perdoou. Bonitinho! a atitude e as fotos. Dois anos depois novas fotos vazaram, apesar dela não vestir mal roupas de marca, promete despi-las no papel certo. Bonitinho! As moças da sociedade das sopas Maggi*** querem “Do Your Thing” (dos Powerman 5000), isto é, desnudar-se. Jennifer Love Hewitt, declina-lhe o corpo, confessou numa entrevista: “gostaria de ter nus desde os 12 anos até aos 28. Estava fantástica!”. O museu Tate Modern suspendeu a exposição “Spiritual America”, de Richard Price, contendo uma imagem de Brooke Shields**** nua aos 10 anos. Bonitinho! quem define a Arte, no século do Iluminismo Néon, é o polícia: “os agentes têm experiência especializada”.
----
* As celebridades tuítam nuas introduzindo a instantaneidade. Nos sonhos, listam-se aquelas que queremos ver nuas. E, ultrapassou-se a última fronteira, mostrar o interior do corpo: já se comercializam janelas para os dentes.
** Hinda Wassau, nascida Hinda Warshaw, em Milwaukee, dançarina de burlesco, no princípio do século XX, reclama-se inventora do striptease quando, em 1928, no State Congress Theatre de Chicago, por acidente, as alças do seu vestido se partiram e a assistência aplaudiu entusiasticamente.
*** Campbell’s, nos meios intelectuais museológicos.
**** A actriz que perdeu, para sempre, a virgindade aos 22 anos.
.
Na actualidade, não há nada mais bonitinho do que o Haiti. País afamado pela rica culinária de bolinhos de lama, subsidiado pelo grande coração do FMI*, de jornalismo barriga cheia e sólidas construções arquitectónicas. E depois? Depois a terra tremeu. Debaixo das pedras rastejaram as velhas comissárias, subcomissárias, altas funcionárias da ONU, e das instituições da caridadezinha: ó coitadinhos, que sofrimento, vamos mobilizar! Há sangue, enter the business**. Os iates atracam; as organizações humanitárias posam para a fotografia; Hillary Clinton comanda: “é importante que nos vejamos como parceiros do Haiti, não como mecenas, e que trabalhemos em conjunto, e de forma intensa, para produzir resultados, que possam ser vistos e sentidos pelos haitianos”***, e os mercenários americanos entrouxam as armas para mais uma oportunidade de negócio; o FMI exercita segundo salvamento com 100 milhões de dólares, agora, com as condições naturais para a Doutrina do Choque**** progredir na criação de riqueza, por enquanto, a função pública haitiana não terá aumentos. Bonitinho! todos help, de pura bondade, séculos de bondade.
----
* O Haiti era um país auto-suficiente na produção de arroz. Em 1986, o FMI emprestou 24.6 milhões de dólares, com a condição do Governo haitiano consentir no “mercado livre, reduzindo as tarifas de protecção do seu arroz, e outros produtos agrícolas, resultado”: o mercado foi inundado pelo arroz norte-americano: dois anos depois os agricultores haitianos faliram, incapazes de concorrer com os preços dos produtores americanos, subsidiados pelo seu Governo.
** No filme “Inside Man” (2006), de Spike Lee, Madeleine White (Jodie Foster) cita para o detective Keith Frazier (Denzel Washington), o barão de Rothschild: “quando há sangue nas ruas, compra propriedade”
*** No marketing obâmico significa: diz-se uma coisa: as pessoas acreditam, piamente: e faz-se outra.
**** A imposição do “mercado livre”, quando as pessoas estão abanadas por desastres, naturais ou humanos.
.
[Robbie Fulks – músico country (e bloguista), improvável nos hit parades e nas cornetas da fama dos críticos, por cantar o desprezo pelo country convencional e o seu covil, a cidade de Nashville, como na canção “Fuck This Town” do álbum South Mouth (1997). Mais tarde, lamentará tê-la escrito, e devido a exaustação repetitiva, já não a toca mais; explica numa entrevista: “ponho muita porcaria nos meus discos, que alguns anos depois, de certa forma, me arrependo, (…) é mais ou menos autobiográfica, acerca de estar farto do meu trabalho, que é escrever canções para um editor de Nashville”. Escreveu também uma canção que, melódica e estruturalmente, enganaria as mães dos Fountains of Wayne*, chamada: “Fountains of Wayne Hotline”: uma linha telefónica de valor acrescentado, para músicos com bloqueios criativos, onde os Fountains of Wayne aconselhariam, com os seus truques, saídas, na composição de canções de estrutura pop ▬ “Cigarette State” Θ “That Bangle Girl”, declaração a Susanna Hoffs, boazona vocalista das Bangles Θ “Countrier than Thou” Θ “Georgia Hard” Θ “Lotta Lotta Women” Θ “Parallel Bars” Θ “She Took a Lot of Pills and Died”.
.
(* Fountains of Wayne – grupo pop iniciado por Adam Schlesinger e Chris Collingwood, como um duo, em 1996, e rebolado pela revista Rolling Stone como: “a voz da Generation X sobre o colapso dos Nirvana”. Experimentaram vários nomes, “Are You My Mother?” ou “Woolly Mammoth”, e fixaram-se no de uma loja de loiça decorativa para jardins, filmada num episódio dos Sopranos, e falida em 2009, situada no cruzamento da U.S. Route 46 e da New Jersey Route 23, em Wayne, New Jersey“, perto da casa de Schlesinger ▬ Stacy’s Mom” Θ “Someone to Love” Θ “Mexican Wine” Θ “Hackensack” Θ “No Better Place”)].
.
Nos debates quinzenais do Governo, com os parlamentares, não voam dildos, mas a interlocução é afável: – o primeiro-ministro José Sócrates: “a Sra. deputada quando estava no Governo criou o PEC*, quando está na Oposição acaba com o PEC. Isso é simplicíssimo. Simples. É dar uma pirueta, Sra. Deputada. Dar uma pirueta”; a idosa líder da Oposição, na bancada, microfone desligado, vocifera: “não é não! não é não!”. A rotatividade do poder, nas democracias bi-partidárias, não é o eterno retorno, é a roda do hamster: roda o mesmo: 360º sem pecado. A idosa Sr.ª Leite, quando calçava os sapatos de ministra das Finanças, contratou por 25 mil euros/mês, um milagroso gestor para cobrar impostos. O milagroso gestor não fez um bom serviço. Assegurou para as Finanças os poderes de polícia, juiz e jurado, cobrando sem avisar, nem preocupação de redução dos erros: o contribuinte que reclame, pois o país é produtor mundial de advogados; introduziu o trabalho por objectivos, gratificando quem os alcança ou ultrapassa: finalmente Pavlov aterrou em Portugal; construiu um bunker burocrático fechado aos contribuintes. E a idosa Sr.ª Leite não foi responsabilizada, nem obrigada a devolver, dos seus rendimentos, os salários gastos no milagroso gestor. Bonitinho! – festeja o desnudo pagador de impostos.
----